segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

[Resenha] O Doador de Memórias - Lois Lowry

O pior de ser quem guarda as lembranças não é a dor que se sente. É a solidão.As lembranças precisam ser compartilhadas


O mundo que Jonas vive é cinza. Sim, cinza. Essa foi uma das escolhas feitas pelos anciões ( que são basicamente as pessoas que controlam a a comunidade onde Jonas vive) para preservar e evitar o sofrimento da raça humana. "Mesmice" esse é o regime onde vivem, tudo é igual, asséptico, as pessoas não tem sentimentos intensos, são todos da mesma cor, tem restrito acesso ao conhecimento e crescem com regras como não se pronunciar de forma conotativa e sempre falar a verdade. Não existem famílias, o que há são as unidades familiares, onde marido e mulher são escolhidos pelo "Governo", os filhos são gerados por terceiros, e o amor fraterno não faz parte da realidade familiar;

A cada ano completo, as crianças da comunidade de Jonas "Sobem de nível". Por exemplo, se você era um oito, ao se tornar um nove vai ter direito a uma bicicleta para se locomover pela comunidade. Ao completar doze anos, as crianças saberão quais serão os cargos em que trabalharão para o resto da vida. Acontece que essa não é uma decisão esporádica. As crianças são avaliadas durante toda a vida e os anciões escolhem a profissão que mais se encaixa com cada personalidade, e a maioria das crianças já sabe quais serão suas profissões. Mas Jonas não, ele não faz a mínima ideia do o que futuro lhe reserva, e ao ser escolhido como recebedor de memórias, sua vida muda para sempre.

Como tudo mudou, apenas uma pessoa na comunidade guarda as memórias do que o mundo já foi um dia, e elas precisam ser passadas pra frente. Jonas foi o escolhido, e é dele a responsabilidade de guardar lembranças antigas de uma realidade completamente diferente da sua. O maior problema, é que não são apenas memórias boas, e grande parte delas - frutos de um antigo mundo em guerra- causam dor e sofrimento em quem as recebe, além de que a percepção da existência de sentimentos mudam completamente o jeito com que Jonas vê sua comidade. 

É complicado falar desse livro por vários motivos. Primeiramente porque ele é muito bem escrito e tem um enredo simples, mas mesmo assim permite uma infinidade enorme de interpretações.

A narração em terceira pessoa de Lois Lowry é competente, explora os sentimentos e dúvidas de Jonas sem dó, e não disfarça as confusões que se instalam com as descobertas que acaba por fazer, deixando bem evidente assim, a grande evolução do personagem. O que foi bem decepcionante pra mim, foi o fato de a autora não explorar os outros personagens da trama. A história do Doador de memórias é superficial e passa batida, assim como os personagens secundários.
outras capas
O universo criado pela autora também não foi bem explorado, faltaram explicações. O que levou a sociedade a se juntar daquela maneira? Como os primeiros anciões foram escolhidos? Nenhuma dessas questões essenciais têm resposta. A falta de expansão do universo criado evidenciou pra mim preguiça por parte da autora.

Se por um lado faltam uma grande quantidade de respostas quanto ao universo criado, é possível identificar analogias políticas e bíblicas no livro de Lowry. Criticas ao socialismo e  referências a história de Adão e Eva, respectivamente.

O ritmo de leitura é rápido. Quando eu estava começando a gostar e achar interessante, o livro acabou. 195 páginas que poderiam ter sido expandidas e entregar uma estória bem mais completa.

O trabalho da editora Arqueiro está bom. A tradução está muito bem feita e o trabalho de revisão foi primoroso. 

Concluindo, é um livro interessante, mas que poderia ser bem melhor trabalhado.

Editora: Arqueiro

Autora:  Lois Lowey

N° de páginas: 195
Sinopse:  Em O doador de memórias, a premiada autora Lois Lowry constrói um mundo aparentemente ideal onde não existem dor, desigualdade, guerra nem qualquer tipo de conflito. Por outro lado, também não há amor, desejo ou alegria genuína. Os habitantes de uma pequena comunidade, satisfeitos com a vida ordenada, pacata e estável que levam, conhecem apenas o presente o passado e todas as lembranças do antigo mundo lhes foram apagados da mente. Um único indivíduo é encarregado de ser o guardião dessas memórias, com o objetivo de proteger o povo do sofrimento e, ao mesmo tempo, ter a sabedoria necessária para orientar os dirigentes da sociedade em momentos difíceis. Aos 12 anos, idade em que toda criança é designada à profissão que irá seguir, Jonas recebe a honra de se tornar o próximo guardião. Ele é avisado de que precisará passar por um treinamento difícil, que exigirá coragem, disciplina e muita força, mas não faz ideia de que seu mundo nunca mais será o mesmo. Orientado pelo velho Doador, Jonas descobre pouco a pouco o universo extraordinário que lhe fora roubado. Como uma névoa que vai se dissipando, a terrível realidade por trás daquela utopia começa a se revelar.

2 comentários:

  1. Pelo que venho notando a literatura atual ta deixando um pouco de lado a febre sobrenatural e investindo mais em realidades pós-apocalíptica. Gosto desse tipo de história, mas pelo que vi na sua resenha, esse livro tem algo q as vzs n fica bem explicado em livros desse gênero, que é como o mundo acabou, como chegaram naquela realidade, e isso pra mim nao é um detalhe, mas uma parte primordial da história.

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  2. Esse livro nos leva a refletir sobre a linha tênue entre utopia e distopia, gostei muito dele!

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